segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Balanço do debate do Cacs 2010 segundo o 220V


No passado a PUC se tornou renomada e de excelência por ter se aberto para a sociedade, demonstrando vivamente que a universidade não é um fim em si mesmo. Era isso que dava orgulho. Ela nunca tinha hesitado em se posicionar politicamente diante dos principais acontecimentos, acolhendo refugiados, exilados e perseguidos políticos. Para citar apenas um exemplo vale lembrar do Florestan Fernandes. Infelizmente, hoje em dia ela maximiza professores, terceriza funcionários e expulsa os estudantes inadimplentes e pra coroar a mordaça agora querem reduzí-la a sala de aula, fechando-a em si mesma, da mesma forma que colocaram cadeados na quadra esportiva.

Diante desse terrível cenário o debate para o CACS foi revelador das propostas surgidas na PUC dois anos após o Redesenho.Nas próximas linhas 220V irá colocar as suas impressões sobre algumas das idéias apresentadas e irá polemizar com algumas das posições defendidas pelas chapas. Mas antes disso, iremos fazer um elogio aos primeiros anos.

A honestidade dos primeiros anos merece uma salva de palmas ao estar dispostos a participar da vida política da PUC se organizando em chapas. Infelizmente, eles não viveram as lutas contra o Redesenho. E vamos ser francos com eles e quem achar que isso é apenas uma frase de efeito que a desminta publicamente: "Não dá pra entender a complexa situação que vive a PUC sem entender os anos de luta contra o Redesenho." Ora, se eles não viveram o processo, como vão tirar conclusões do mesmo se não for a partir do debate democrático daqueles que tiveram essa experiência. Somente assim poderão estar apoiados em algumas referências para poder atuar com as próprias pernas e não com o umbigo. Da mesma forma que todos os estudantes ao fazer um trabalho acadêmico próprio precisam de referências bibliográficas, os primeiros anos precisam saber das referências da luta contra o Redesenho. E onde isso estaria senão num programa que sintetizasse as conclusões políticas daqueles anos ...
A primeira pessoa tem que ser a do plural e não a soma de 1+1+1+1+... = muitos umbigos com alguns piercings.
A História é a nossa maior professora porque ela nos ensina coisas que o vazio nunca irá preencher. A discussão de ter Programa ou não põe a prova se aprendemos ou não as suas lições ou se continuaremos a estar sendo um zero a esquerda.

Ter um programa político não é um entrave para a participação política, ou ainda cristalizar um dogma para erguer o triunfo do pensamento único. Não é nada disso. E isso foi confirmado empiricamente quando a gestão Primavera de Praga defendeu e executou a proporcionalidade que consiste na participação das chapas derrotadas dentro da própria gestão tendo seu poder de voz e voto equivalente ao desempenho nas urnas, pois assim estariam expressos dentro da gestão as posições dos estudantes. Ademais, as reuniões de gestão sempre foram divulgadas e abertas a participação dos estudantes. O programa político é a garantia de um compromisso firmado e de se dar a continuidade a uma luta. A auto-gestão não dá garantia nenhuma, pode ser que aconteça ou não. Na hora se improvisa o que se vai fazer, na esperança de que em todas as reuniões irão estar todos os alunos e que desses improvisos irão sair sons extraordinários como os do Hermeto Pascoal ou de Charlie Parker. Ao optar em não ser um agrupamento sólido, com idéias e objetivos bem determinados, a auto-gestão líquida cai em nome de um discurso fluido sem nenhum tipo de delimitação em falas desconexas que confundem os estudantes, pois de manhã dizem que não tem programa, depois soltam material dizendo como será o funcionamento do Cacs como um espaço político, depois soltam outro material com alguns posicionamentos políticos. Esse percurso todo faz com que os estudantes não tenham a mínima idéia de qual será a próxima manifestão deles. E o pior é não ter mínima noção de por exemplo como será a atuação no CCA, ela irá se evaporar? Vai existir representação ou um pessoa da faculdade de sociais aparece lá e dizendo o que lhe vier na cabeça define pelos cursos as posições de todos perante a universidade. 

 É bom lembrar que a realidade se move por ascensos e refluxos. Esse é o ABC do movimento estudantil e também ninguém pode esquecer que a ideologia neoliberal é a que prega o fim da História, em suma, ela consiste em dizer que não há mais ideologias. Nos períodos de ascenso do movimento como foi a ocupação da reitoria, quando a participação estudantil era muito grande, as decisões foram tomadas democraticamente nas assembléias que são deliberativas por todos os alunos e foram organizadas comissões abertas a participação de todos com voz e voto iguais realizando a verdadeira horizontalidade. E nos momentos de refluxo quando a participação estudantil diminui drasticamente como ocorre hoje em dia, precisamos ter a garantia dos nossos compromissos e que o movimento continue. E garantia nesse caso específico não é nenhuma caretice e exige de todos nós muitos sacrifícios.Nos períodos de refluxo é preciso nadar contra a maré, abrir mão da preguiça, de rolês e de algumas horas de aula para fazer panfletos, passar em sala e estar preparado pra ser xingado por professores. Deixar tudo  a deriva é ser conivente com a realidade e o aprofundamento do projeto que a igreja dá para a universidade. Nunca se esqueçam de que pra quem 30 anos depois do Erasmo pôs a polícia aqui dentro em dois minutos pode acabar com o mínimo de vida que ainda existe. E nessa hora sim ser bem democrático, não estando nem aí se você lê Marx, Kierkegaard, Guattari ou Maquiavel, pois os direitos de não existir são iguais pra todos. Pra quem duvida e acha um tanto absurda essas possibilidades, não pague pra ver!!!

Da mesma forma é impossível pensar num programa sem pensar num balanço. Te convido a soltar o balanço publicamente, pois a arma da crítica sem a crítica das armas torna o programa uma letra morta e fortalece a subjetividade de que as bandeiras estão aí há muito tempo e não resolvem nada. Isso reduz o debate a falas que transcendem a abstração sobre a multiplicidade e preocupações com o financeiro do CACS, descolando essa discussão dos rumos que a universidade vem tomando. Nesse sentido ter uma gestão no CACS é muito mais do que o simples debate se há a falência do modelo de representação. Não negamos esse debate, ao contrário o levamos até o limite para denunciar o modelo de representação deficitário porque passa a estrutura de poder da PUC, onde dois padres têm mais poder do que 20.000 estudantes. Afinal quem faz a universidade, a igreja atolada em escândalos de pedofilia ou a maioria estudantil? Não se esqueçam que a igreja não pune os pedófilos, mas pune a comunidade. Por isso que não nos cansamos de dizer aos primeiros anos que quem ajudou a construir o Consad foi a polícia e não a comunidade e que também não é possível dar vida plena a universidade sem revolucionar de uma vez a sua estrutura de poder e se posicionar politicamente diante dos acontecimentos sociais.  

Muitas vezes o nosso silêncio é muito mais embrutecedor do que por exemplo quebrar um cadeado para que os estudantes possam utilizar uma quadra esportiva. Desconfiem da falsa associação que coloca como sinônimos ações radicalizadas e ignorância. A ignorância nesse caso não está em utilizar a força bruta para destruir um cadeado, mas em ter esse espaço dentro da universidade e proibir o seu uso. Só pra citar um exemplo o que seria da NBA sem o basquete universitário americano? Outro exemplo de silêncio foi o do conselho departamental quando a polícia entrou que não soltou coletivamente nenhuma nota de repúdio a invasão da polícia. Eles retornaram a sala de aula, assim como a reitora naquele momento da universidade, a socióloga Maura Véras, e o chefe de gabinete, o antropólogo Guilherme Simões, também o fizeram após o término de seus mandatos, retornando a uma suposta normalidade. Essa omissão é a expressão de uma época marcada pelo silêncio dos intelectuais. Primeiros anos, peguem o trompete do Chet Baker e botem a boca nele pra que todos saibam como o passado construiu o presente. Mãos à massa!!!  
    
Hoje em dia as subjetidades céticas, niilista, a resignação e o desabafo das mesmas caras do movimento estudantil dão a tônica no período de  refluxo da universidade. Isso sempre ocorreu, agora o que não pode deixar de acontecer é a reflexão sobre como chegamos até aqui e sobretudo como iremos sair para que a universidade esteja sendo gerida pela própria comunidade e se abra novamente para a sociedade. O motivo
principal do 220V atuar é não deixar o movimento estudantil virar peça de museu ou TCC de antropólogos e historiadores interessados em sociedades mortas. Primeiros anos, o recado está sendo dado porque temos a certeza de que vocês irão dar conta do recado. Por mais rosas que os poderosos matem nunca irão deter a primavera, pois o futuro vos pertence. 220V.

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