segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Carta Pública aos primeiros anos

Carta pública

O atual momento de passividade da PUC-SP é marcado pela ausência das grandes lutas que marcaram os anos 2005-08. Infelizmente, os estudantes dos primeiros anos vivem as conseqüências do período do Redesenho Institucional, embora desconheçam as causas que culminaram nesse processo e as tendências que ele aponta para a maior elitização da universidade. Deste modo, é possível que haja uma naturalização do status quo e muitos pensem que a vida universitária sempre foi assim e alguns cheguem a acreditar que sempre será assim. Somado a isso, os alunos que protagonizaram essas lutas estão se formando de modo que não poderão dar continuidade a elas. Nesse sentido, esse texto é uma contribuição nossa que participamos de tudo isso, gostaríamos de dar a vocês sobretudo utilizando o privilegiado espaço que as eleições abrem para tratar desses assuntos. Assim, levantamos as seguintes questões que devem ser primordiais para a reflexão conjunta: Qual deve ser o debate para essas eleições do CACS dentro do atual contexto histórico? Qual a potencialidade do Centro Acadêmico? 

A existência do Centro Acadêmico em primeiro lugar demonstra que a vida universitária não é apenas dentro da sala de aula, refletindo sobre um conhecimento já feito. Tampouco o centro acadêmico é somente um espaço físico em que se estabelece a convivência entre os alunos. Na realidade, o CACS é um espaço que permite com que estudantes tenham voz na universidade e ajam como sujeitos históricos, organizando atividades esportivas e culturais, semanas acadêmicas e principalmente atuando e defendendo os seus interesses políticos. O que são os interesses dos estudantes? Desde reivindicações espefícicas de problemas com relação a uma goteira na sala de aula até problemas mais complexos que se referem ao poder de decisão que possuem na universidade e posicionamentos relacionados as diretrizes estabelecidas pelo MEC. Assim, é inconcebível desvincular o CACS da política, visto que ainda que acredite que não tenha nenhuma posição política está participando de um processo político. Assim, inevitavelmente aparece a questão de quais idéias políticas e quais reflexões não podem faltar no debate dos estudantes. Mas não se enganem, a política não se faz apenas nas eleições para o Cacs, a política ocorre em todos os lugares e é fundamental que os estudantes façam pressão para que os seus interesses sejam atendidos e que nenhum burocrata se aposse de um espaço deles. Também é importante fazer perguntas as chapas que estão disputando essas eleições para saber qual é a deles.  

PSTU, de que lado você samba e qual é o seu balanço? Na sua carta programa você chama o Abaixo o Consad e a intervenção da Igreja, porém na Audiência Pública vocês querem que o Consad garanta a permanência do estudante na universidade alimentando a ilusão de que ele pode defender os interesses estudantis. Quando na mesma audiência o professor de Antropologia Rinaldo  dizia que a PUC vive um simulacro de democracia confirmando as reclamações da comunidade. Porque somente no período eleitoral vocês se articulam e organizam atividades diárias enquanto em dois e meio o deixaram ao relento, sendo a maior prova do seu desgaste a formação de uma auto-gestão que se organizou como frente única apenas para tirá-los do CACS.

Auto-gestão, porque em tempos em que a tônica das ciências Humanas é a interdisciplinaridade, vocês que associam o pão de queijo do Dirceu, zen e o Chet Baker e propõem na sua carta de princípios o CACS como espaço político em função da felicidade dos alunos, não colocam nenhuma medida concreta para atingir essa tal felicidade e porque vocês não estendem essa felicidade também para a efetivação dos trabalhadores tercerizados e aos professores para que não sejam maximizados. Ou será que a felicidade tem que ser egoísta?

Primeiros anos, não caíam na falsa polarização de que para se fazer atividades acadêmicas e culturais inusitadas não se deve discutir política ou ainda tratá-la de uma forma vaga e reticente. Lembrem-se da experiência francesa do maio de 1968, onde o movimento estudantil realizava importantes atividades culturais transgressivas ao mesmo tempo que organizava barricadas nas ruas e não apenas tinham a meta de mudar a universidade como de revolucionar a sociedade como um todo. Não percam o senso crítico diante da realidade, questionem as causas dos problemas porque passam, pois as consequências vocês já estão sofrendo e se não fizerem nada continuarão a sofrer. Observem quem são as pessoas que articulam as coisas na universidade e começem a se organizar, pois a sua mobilização consciente será fundamental para mudar a correlação de forças. Será uma tolice ficar indignado com a burocracia, a igreja e os capitalistas da educação por eles defenderem os seus interesses, agora fiquem indignados e lutem contra os estudantes que não defendem os seus próprios interesses e dão de mãos beijadas a universidade para esses setores parasitários. Somente construindo um outro projeto de universidade que se posicione politicamente a favor dos interesses da maioria explorada e atue de modo coerente para isso poderá fazer com que nós tenhamos o orgulho de ser PUC.
     

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