terça-feira, 9 de novembro de 2010

Resposta ao "De que lado você samba?"


Um aspecto comum das chapas é a contradição entre o que dizem e como agem. Em um texto anterior, colocamos as confusões autogestionárias, agora iremos expor as contradições do "De que lado você Samba?", pois como dissemos na Tréplica: "220V não é segregador do movimento como foi dito nos corredores. Apenas gostamos de ser claros e de colocar nossos pontos de vistas de modo preciso para que não haja dúvidas nos estudantes." Deste modo, colocaremos nossas críticas em relação a chapa "De que lado você Samba?".

A primeira contradição deles é ser uma chapa formada majoritariamente por estudantes de História e ao mesmo tempo se recusar a fazer um balanço de sua atuação. Como entender o presente, sem entender o passado? Como situar o presente em perspectiva histórica sem apresentar o contexto histórico? Ou como diria o Paulinho da Viola como pensar o futuro sem esquecer o passado?

O surreal atraso com que soltaram a atual carta-programa fez desse agrupamento, uma tímida porta-bandeira que no quesito balanço infelizmente teve a nota zero. O balanço é a chave para qualquer caracterização política, pois trata a realidade dentro do contexto histórico. Ao se negar em colocar as suas posições publicamente em perspectiva histórica a "De que lado você samba?" não utilizou a categoria analítica Refluxo para compreender a realidade. Nesse sentido, dá o absurdo título "Um 2010 muito longe do marasmo" para o ano corrente. Se 2010 estivesse muito longe do marasmo, no debate da noite não estariam presentes em sua maioria as mesmas caras do movimento estudantil, a subjetividade pós-moderna não estaria fortalecida e sobretudo o Consad estaria sendo sistematicamente questionado por toda a comunidade. Ao não enxergar a atual conjuntura como um período de refluxo, escapou a oportunidade de tratá-lo como preparatório para o próximo ascenso, relatando aos primeiros anos que a naturalização do status quo é um engodo e que a dinâmica dos fatos é sempre marcada por saltos qualitativos.
  
Além de analisar a conjuntura, o balanço também apresenta a auto-crítica da gestão. Esse é o ponto. Lembremos o que diz o camarada Lenin sobre as pessoas inteligentes: "Pode-se dizer, da política e dos partidos, com as variações correspondentes, o mesmo que dos indivíduos. Inteligente não é aquele que não comete erros. Não há, nem pode haver, homens que não cometam erros. Inteligente é aquele que comete erros não muito graves e sabe corrigi-los acertada e rapidamente." A auto-crítica é a pedra angular para as pessoas inteligentes segundo Lenin. Se não quisermos ser Homer Simpsons, devemos lembrar das geniais palavras do camarada Lenin ... Por não fazer a auto-crítica, a atual gestão não sinaliza se conseguirá superar as contradições apresentadas em 2010.

Na nossa carta aos primeiros anos, perguntamos: "PSTU, de que lado você samba e qual é o seu balanço? Na sua carta programa você chama o Abaixo o Consad e a intervenção da Igreja, porém na Audiência Pública vocês querem que o Consad garanta a permanência do estudante na universidade alimentando a ilusão de que ele pode defender os interesses estudantis." 220V considera essa intervenção equivocada por ela não se contrapor a atual estrutra de poder. Dizer o Abaixo Consad e atuar desse modo é contraditório na nossa visão e o mais problemático é não fazer a auto-crítica. Do mesmo modo que consideramos errado quando no programa de vocês não há uma vírgula sobre a atual estrutura de poder do Conselho Departamental. A precarização do curso de história e o impasse da Licenciatura em Sociais são frutos da participação estudantil ser uma fachada nessas instâncias deliberativas. A ausência de auto-crítica é o ponto de apoio para os autogestionários dizerem que o papel aceita tudo e que as bandeiras estão aí a muito tempo e não resolvem nada.     
  
Na carta programa vocês apontam sem fazer um aprofundamento do significado o seguinte dado: "Recentemente, a PUC-SP foi considerada a 2ª melhor universidade particular do país e a melhor universidade particular de São Paulo." Em nosso balanço do debate dissemos: "No passado a PUC se tornou renomada e de excelência por ter se aberto para a sociedade, demonstrando vivamente que a universidade não é um fim em si mesmo. Era isso que dava orgulho. Ela nunca tinha hesitado em se posicionar politicamente diante dos principais acontecimentos, acolhendo refugiados, exilados e perseguidos políticos. Para citar apenas um exemplo vale lembrar do Florestan Fernandes. Infelizmente, hoje em dia ela maximiza professores, terceriza funcionários e expulsa os estudantes inadimplentes e pra coroar a mordaça agora querem reduzí-la a sala de aula, fechando-a em si mesma, da mesma forma que colocaram cadeados na quadra esportiva." No passado a excelência decorria de se pocisionar politicamente perante a sociedade, hoje em dia a excelência decorre apenas de uma produção acadêmica descolada de posicionamentos perante a sociedade, assim como perante a própria situação da universidade. Hoje em dia há a combinação perfeita entre produção acadêmica e o silêncio dos intelectuais. A resignificação do que seja a excelência está atrelada a projetos distintos de universidade. Vocês no mesmo programa colocam sobre a necessidade de se criar um novo projeto para a universidade, mas quando apontam o  dado anterior não fazem a distinção entre o que era excelência antes e hoje em dia. 

Para nós, a atual gestão em muitos momentos se adaptou a dinâmica do refluxo e esqueceu muitas vezes de convidar os estudantes a lutarem. Qual a atuação de vocês no período da manhã? Pelo que sabemos, lá sim foi o verdadeiro marasmo. Não é a toa que a auto-gestão tem muito peso de manhã, inclusive com os primeiros anos compondo a chapa. Como os estudantes da manhã mesmo sabendo que vocês são 67 pessoas poderão saber que a ação será diferente dá de 2010? Eles, sim, irão perguntar a vocês: "De que lado você samba?" Ter uma gestão apenas depois da hora do Rush é uma debilidade muito grande, os estudantes não podem vê-los apenas como turistas de manhã. Esperamos que caso vocês vençam, a atuação seja outra no período da manhã.

Para confirmar que não somos segregadores do movimento, gostaríamos de dizer em público que houve o debate interno dos 220V sobre a questão do apoio crítico ou a crítica ao apoio em relação a vocês. A resposta unânime foi de crítica ao apoio, pois vocês não fizeram a auto-crítica. Como podemos dar apoio a vocês, se vocês não fizeram o que pedimos que era o balanço? E com certeza essa crítica não é apenas nossa, todo estudante tem direito de saber qual é o balanço de cada gestão, ainda mais se ela concorre a reeleição. Esperamos que quando responderem publicamente a essas linhas, façam a auto-crítica e finalmente soltem esse balanço, pois temos completa certeza de que vocês não são Homer Simpsons, mas sim pessoas inteligentes.

Um comentário:

  1. sim, 220v... falta a auto-crítica. falta reconhecer o que não estava rolando, na última gestão, e inclusive dizer que também não será fácil na próxima (se houver). o refluxo é um fato, está aí. precisamos nos organizar para combatê-lo e botar na parede a REItoria e seus comparsas nessa Puta Universidade Cara... a menos que a gente não se importe se universidade está como está. a crítica de vocês, com certeza, contribui para essa reoganização dos estudantes! é claro que ainda falta muito pra botar fogo na coisa, mas aí já não depende só da vontade de algumas dúzias de estudantes combativos. ainda assim, sempre é bom estar preparado com fósforo e querosene...
    há braços,
    :: tabita

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