quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Tréplica

Uma Resposta aos autogestionários

Em nosso balanço do debate dissemos: "Ao optar em não ser um agrupamento sólido, com idéias e objetivos bem determinados, a auto-gestão líquida cai em nome de um discurso fluido sem nenhum tipo de delimitação em falas desconexas que confundem os estudantes, pois de manhã dizem que não tem programa, depois soltam material dizendo como será o funcionamento do Cacs como um espaço político, depois soltam outro material com alguns posicionamentos políticos. Esse percurso todo faz com que os estudantes não tenham a mínima idéia de qual será a próxima manifestação deles."

Agora já sabemos quais foram, de modo que já temos mais elementos pra aprofundar as nossas divergências políticas.

Os novos rumos fluidos foram os seguintes: na semana retrasada da PUC, no debate da manhã houve a proposta da abolição das eleições, a noite a proposta de unificação das chapas, no outro dia uma reunião dos autogestionários para acertar os pingos nos is, pois perigava haver um racha por conta da suspeita de uma burocratização. Ademais, soltaram alguns textos respondendo e colocando críticas as nossas posições. O texto que segue é uma tréplica a essa atuação teórica e prática.

Um espectro ronda o Cacs - o espectro do pós-modernismo. A eleição do Cacs colocou espontâneamente a questão da quebra dos paradigmas sob o ponto de vista da prática. A liquidez autogestionária como já descrevemos acima, por trás de um discurso plural revela, nada mais nada menos, do que CONFUSÃO teórica e mais CONFUSÃO prática que no fim só leva a contradições e mais contradições. Primeiros anos, vocês estão experienciando o discurso pós-moderno de um ponto de vista prático, coisa que o silêncio dos intelectuais nunca irá lhes dizer.


Ao partir de uma matriz de pensamento calcada na descontinuidade, a Auto-gestão abriu mão de toda a caracterização que o movimento estudantil construiu ao longo dos anos de luta contra o Redesenho. Nesse sentido, a visão autogestionária por ter como imperativo o entendimento de que qualquer categoria que queira apreender o real acaba o reduzindo e o simplificando, vê como um absurdo dizer que a dinâmica do movimento se dá por ascensos e refluxos. Assentado isso, eles não conseguem extrair a concepção otimista de que o refluxo quando bem trabalhado se torna na realidade um período preparatório. Por considerar a fluidez do Deixa a vida me levar a melhor coisa do mundo, a auto-gestão não formula nenhum prognóstico e assim nunca se antecipa aos fatos, ao contrário, sempre é pega de surpresa, desse modo as lutas que ocorrerão serão sempre reativas e no máximo conseguirão ter lampejos inventivos múltiplos que por serem efêmeros se esvairão no próximo refluxo. Esse é o preço que se paga por não ter projeto e objetivos claros.

Vocês disseram que o papel aceita qualquer coisa. Dizer isso é fazer um papelão. O papel só aceita aquilo que depois de uma auto-crítica foi escrito na prática pelos estudantes da PUC, nas suas lutas no início do século XXI. Quando fizemos cadeiraço, - que é tirar todas as carteiras do prédio velho e colocá-las no Pátio da Cruz-, quando expulsamos do Tuca e da P-65 os burocratas que estavam votando o Redesenho, quando ocupamos a Reitoria e a polícia teve que dar uma forcinha no parto do Consad. Essa é a história que deve ser contada pra não se tornar efêmera ou trivial. Aliás, só mais uma curiosidade, dissemos no nosso balanço que não dá pra pensar a PUC hoje em dia sem pensar no Redesenho e quem fosse contrário a essa visão que se pronunciasse publicamente. Surge então as seguintes perguntas aos autogestionários: "Por que no histórico que expõe pelo efêmero não se menciona a experiência da PUC no século XXI? Como seria avançar do olhar do micro que é um Centro Acadêmico para as enormes mudanças estruturais que ocorreram com o Redesenho pelo olhar do efêmero que não pensa em causas e efeitos?


Se fosse verdade que o problema do CACS é o fato de ter gestão ou não, porque em toda a primeira década do século XXI houve chapas que propunham a auto-gestão e elas nunca venceram. Além disso, se essa fosse a principal demanda dos estudantes já haveria um movimento espontâneo de todos os estudantes pela auto-gestão e não a necessidade de montar uma chapa, explicar o que se quer e se organizar para tal. Como pode ser oxigenado o CACS, se na estrutura da reunião autogestionária está determinado um modo rígido de quais as condições para se pautar um tópico de reunião? Desconsiderando por exemplo os alunos que fazem apenas uma ou duas disciplinas por semana e não podem comparecer dois dias antes para escrever na lousa o que querem como pauta. E se a idéia surgir na véspera da reunião, devem os estudantes aguardar até a outra semana pra poder discuti-la. Isso está muito longe de ser uma oxigenada, aliás está muito mais para morte súbita ... RIP.


Se a auto-gestão saísse um pouco do micro veria que o Cacs faz parte do CCA e aí o problema da representação entraria de novo em cena. Já apontamos isso no nosso balanço. No CCA, o CACS tem apenas 1 voto e nada mais. Nesse sentido terá que tomar uma posição, só uma diante da faculdade. Ora, se os autogestionários levarem até o fim esse discurso de não ter representação quer dizer que não participarão do CCA. Quer dizer que nós estudantes de Sociais que temos no mínimo oito disciplinas de Política não iremos nos posicionar perante a universidade. Estudamos muito, estabelecemos inúmeros debates ricos em conteúdo pra no final ficarmos em silêncio e todos sabem o que significa o silêncio na atual circunstância da universidade. Viva o pós-modernismo!!! Se ficarmos nessa de quebrarmos todos os paradigmas, a única coisa que quebraremos é a nossa cara. O pós-modernismo é tão fluido que sua mudança sempre é de 360 graus. Agora, supondo outro cenário que haja a participação de apenas um estudante do CACS no CCA, o rapaz chega lá e de acordo com o seu humor e a sua fluidez define as posições por toda faculdade de C. Sociais sem conversar com ninguém com um poder monárquico. Dom CACS I. Ou ainda, supondo mais um cenário em que apenas dois estudantes, por exemplo um de cada chapa, participa do CCA com posições absolutamente inconciliáveis. Pra superar o impasse, haverá a disputa entre as partes e uma terá que prevalecer. Qual será ela se não há programa? 220V propõe que se defina no jóquei-pô!!! Lembrando sempre que a tesoura ganha do papel.

Outra coisa, vocês dizem que há a falência do modelo de representação do CACS e ao mesmo tempo reivindicam a ocupação das cadeiras discentes nos Conselhos para lá travar a luta política a fim de restabelecer a democracia dentro de nossa faculdade. A estrutura de poder dos Conselhos, basta ver a instância superior conhecida como Consad não tem participação estudantil de modo que por dentro dos Conselhos é impossível restabelecer a democracia na universidade. Nós não somos sectários com relação a participação nos Conselhos agora estar lá dentro é apenas como vocês dizem corretamente para se obter documentos oficiais acerca dos problemas essenciais da PUC-SP e assim denunciar publicamente por dentro e por fora deles que a universidade não é democrática e não atende aos interesses da comunidade. Por não ter objetivos claros, vocês não fazem uma diferenciação entre o que seria uma participação tática e uma participação estratégica nos Conselhos, deste modo caem em mais uma confusão... Só recapitulando as idéias que vocês propagam, fim da representação no CACS, nenhuma palavra a respeito do CCA e por fim todas as representações nos Conselhos do Redesenho. Isso é muita contradição teórica que cae numa prática extremamente bizarra.

A obsessão pelo micro faz com que haja autogestionários que banalizem o movimento estudantil. O discurso rancoroso de alguns é totalmente indiferente com relação por exemplo aos projetos do governo e aos problemas presentes nas outras universidades. Ao não olhar a atual estrutura de poder da universidade, acreditam também que é muito reducionista a visão de que o Consad é um fator determinante aqui. O Consad não seria um determinante se houvesse resistência. Mas banalizando o movimento estudantil como pode haver resistência? Só pelos métodos umbigóides que acha que por si só é mega ultra hiper master subversivo tocar maracatu pelado na Torre Eiffel. Não temos nada contra esse ato inusitado, apenas achamos insuficiente. O cálculo é muito simples na nossa visão: 20.000 estudantes passivos contra 2 padres e a sua Fundação, com certeza é vitória da Igreja, agora milhares de estudantes pelados ou não em ascenso contra os 2 padres e a sua Fundação podem trazer muita instabilidade e deixar o cenário em aberto. Ao colocar num monolito rotulado de Medo os Grabers, câmeras e cadeados junto com panfletos e krafts que denunciam o status quo, a umbigada egoísta assim como o Coronel Nascimento tem o sublime lampejo de concluir que agora o inimigo é outro.


A discussão de se por ventura a auto-gestão ganhar e logo a seguir começar a pensar em como irá agir, esbarra em outro problema da vida real que afeta diretamente os estudantes do curso de C. Sociais conhecido como Licenciatura. Essa luta iniciada em 2008 que inclusive muitos dos autogestionários estão realizando conosco tem dia e hora marcada pra se tomar a decisão. Por que estamos dizendo isso? Pelo simples fato de que a deliberação sobre um plano emergencial da licenciatura ocorrerá agora no dia 8 de novembro, num espaço muito curto de tempo que não dá pra postergar. Por mais que haja a comissão que estuda o assunto, a licenciatura ganharia muito mais visibilidade e atenção dos estudantes se estivesse no primeiro plano da discussão entre as chapas, coisa que seria um ponto central de qualquer plataforma política. Conseguiríamos avançar muito mais sendo a primeira pessoa do plural discutindo concretamente essa questão complexa que envolve grade curricular, influência dos núcleos de pesquisa na formação dos estudantes, poder de decisão dos estudantes na universidade e também como a maximização dos professores atrelado ao fato deles não lutarem por um outro projeto de universidade os faz demonizar essa causa legítima de todo estudante para não mexer na quantidade de horas aulas que eles irão dar. E seria muito mais interessante aos estudantes discutir esse tema do que ficar assistindo bate boca e baixaria como infelizmente ocorreu no debate da manhã.

Foi dito a respeito de nossa vã filosofia. Pode-se acusar qualquer um, menos Karl Marx de ver as pessoas como gado, pois vamos ser sinceros. Quem analisa as relações sociais sob a luz da Reificação ou Coisificação do ser humano? Esse conceito nem é usado a torto e a direito na Sociologia, né. Cuidado, antes de mostrar sua visão é recomendável dar uma passada no oftamologista ... Com toda a certeza, quem banaliza o movimento estudantil não é o marxismo!!! Ainda dentro da nossa vã filosofia, vamos citar a segunda tese de Marx contra Feuerbach: "A questão se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é teórica mas prática. É na praxis que o homem deve demonstrar a verdade, a saber, a efetividade e o poder, a citerioridade de seu pensamento. A disputa sobre a efetividade ou não-efetividade do pensamento isolado da praxis - é uma questão puramente escolástica."

Primeiros anos, não fiquem apenas no micro. Ouçam, ao contrário do que queria Theodor Adorno, a faixa musical do Chet Baker, mas não se calem diante da Faixa de Gaza. Essa experiência política do processo eleitoral ensinará muito mais do que o pedantismo escolástico que vocês se cansarão de ouvir em sala de aula. Lembrem-se da crítica de Marx a Feuerbach, é na prática que o homem deve demonstrar a verdade de seu pensamento. Se acharmos que 68 passou, seremos esses velinhos de 68 anos resignados que no auge de sua sabedoria estão conformados e não vêem nenhuma alternativa. 220V não é segregador do movimento como foi dito nos corredores. Apenas gostamos de ser claros e de colocar nossos pontos de vistas de modo preciso para que não haja dúvidas nos estudantes. Se concordam ou discordam de nossas posições isso é um fenômeno comum a todos na vida, agora o mais importante é saber quais são as nossas posições e se elas são fruto do embate e da polêmica com outras visões, preferimos expor o que e com quem polemizamos, mesmo que isso tenha um preço a ser pago. Embora sejamos adversários políticos das duas chapas, somos amigos pessoais de muitos deles e se depender de nós o processo eleitoral não irá destruir a nossa amizade e cremos profundamente que todos teremos maturidade suficiente pra não misturar as coisas. Por isso, aguardamos ansiosamente a resposta política que vocês tem a nos dar diante dessas considerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário